Em Maputo, Moçambique, o cenário do cinema é bastante lamentável, não só do cinema, como de todas as outras artes. Isto deve-se ao facto de nossos núcleos de arte, estarem a ser desvalorizados e transformados em igrejas e mais instituições privadas, esquecendo-nos muitas vezes de que a arte desempenha praticamente o mesmo papel que das igrejas, tirando jovens das “drogas” e criando oportunidades à pessoas necessitadas.
Actualmente na nossa cidade (Maputo) existem cerca de 7 salas de cinema em funcionamento, o que implica que não consigamos servir a classe social de massa, a classe baixa. Mas a questão é mais sensível ainda, pois, para além de receber novos criativos e produtores emergentes da 7ª arte, muitas vezes/sempre perdendo para Hollywood.
As implicações disto, são já notáveis, pois nossos produtores começam a optar pela produção de filmes com a característica de Hollywood, como estratégia de venda, ignorando factores mais implicantes e pior ainda, diminuindo a possibilidade de exploração e desenvolvimento desta disciplina.
Com isso, nós vimos a oportunidade de lançar uma semente revolucionária, para fazer frente a este cenário em nosso país, seu nome é MAPUTO CINEMA FESTIVAL.
Este festival de cinema será um evento anual de exibição cinematográfica, revolucionário e interdisciplinar.
Nosso principal objetivo é criar um ponto de encontro entre o cinema e outras artes/disciplinas que contribuem para o desenvolvimento da mesma.
Nossa principal ferramenta é a Arquitectura e o nosso placo de intervenção é a URBE, adequando e explorando espaços com possibilidade de adaptação para salas de cinema temporárias.
Esta ideia, surge com o intuito de colaborar na reciclagem de vários espaços tornados inúteis e também como fonte de incentivo para o desenvolvimento e valorização do cinema, ajudando na resolução dos problemas da situação actual do cinema cá.
O Festival está planeado em duas partes:
A primeira que já está em andamento, é a fase experimental, cujo objetivo é a divulgação e a angariação de fundos.
Fundos estes, que estão divididos em 3 partes:
- Formar uma equipa multidisciplinar para desenvolver o projecto e ganhar experiência;
- Buscar apoio Financeiro;
- Conseguir uma audiência fiel e discípulos.
Para isso vamos realizar 3 sessões experimentais, até ao final deste ano (2016) em diferentes pontos da cidade, sendo que a primeira já foi realizada e os resultados foram bastante positivos. As novas sessões ainda estão por ser marcadas e com locais de intervenção por serem escolhidos. E a segunda parte que será a 1ª edição do Festival que terá início em 2017.
Sendo a primeira edição acreditamos que a angariação não terá deixado de ser um de nossos objectivos, mas, já temos em vista a necessidade de fazer o festival chegar a zonas mais carentes e de forma mais acessível para poder chegar às massas.
A maior parte da 1ª edição será resultado do que iremos angariar neste ano, nas sessões experimentais.
Sobre o projeto:
Esta sala serviu a 34 pessoas por sessão. Uma sala com 36 metros quadrados, estruturada por bambú, e coberta por panos brancos translúcidos. Esta estrutura cobriu as escadas numa das estradas de uma avenida na área nobre da cidade de Maputo. O pano translúcido, para a luz interior do cinema invadir o exterior chamando atenção as pessoas que de fora olham para o cinema. O brilho da sala passa a ser referência para quem passar por ela. De dia o pano branco que não rouba a atenção da textura do bambú e o deixa mais atraente. A tecnologia de ligação dos bambús foi simples, usamos câmaras de pneu antigas e juntamos os bambús, fazendo depois junções seguras e reforçamos ainda com arrame galvanizado para mante-los firmes. No interior, as escadas são a única e melhor opção para os acentos da sala. Adaptamos com uma esponja de 5 cm de espessura e área de 90 cm quadrados para que cada pessoa se sentasse. A tela é uma parede que esta em frente das escadas, penduramos um pano branco com 2 m de largura.
Wilford Machili, é Gestor de Projectos e Administrador da firma de Arquitectura Estúdio 5 em Maputo, Moçambique.